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Flora

 

Foram identificadas 317 espécies de plantas. A maioria está bem adaptada à falta de arejamento do solo, característica de zonas húmidas, no entanto existem também algumas zonas mais secas com uma flora que reflete essa condição.

Embora as espécies inventariadas não sejam muito notáveis é relevante a elevada diversidade considerando a dimensão reduzida da reserva e o facto de um grande parte da área estar vocacionada para a atividade agrícola. É de destacar a existência de uma população de Narcissus fernandesii, um endemismo ibérico, considerado ameaçado, sendo atualmente o maior núcleo dentro duma Área Protegida e o segundo maior de todo o território nacional. Outras espécies a destacar, incluídas no Livro Vermelho das Plantas de Portugal, são a borrazeira-branca (Salix salvifolia ssp. australis), abrunheiro-bravo (Prunus spinosa ssp. institioides), gilbardeira (Ruscus aculeatus) e as campainhas-amarelas (Narcissus bulbocodium). Também de referir a ocorrência de duas espécies de orquídeas do género Serapias.

 

As formações vegetais são dominadas por espécies associadas a ambientes húmidos, sendo notório a variação do elenco florístico consoante caminhamos dos terrenos permanente encharcados para os terrenos que estão permanentemente a seco.

 

Nas áreas permanentemente alagadas, ou que apenas estão a seco num curto período tempo durante o estio, observam-se essencialmente espécies dependentes de terrenos encharcados e ensolarados como o caniço (Phragmites australis), a tabúa (Typha dominguensis), a espadana (Sparganium erectum ssp. negletum), o lírio-amarelo (Iris pseudacorus).  É de destacar o bunho (Scirpus lacustris ssp. lacustris) que,  pela abundância e importância que teve a sua utilização em termos artesanais no passado, deu origem a que ao nome de Bunhal que ainda hoje é utilizado para designar a área mais alagada da reserva natural.

Certas espécies como a mal casada (Polygonum amphibium) que crescem a partir do fundo e têm folhas flutuantes dão uma enorme beleza à superfície das águas. É de lamentar o desaparecimento do golfão (Nynphae alba) estando a desenvolver-se um programa para sua reintrodução.

 

Nas áreas temporariamente alagadas, para além de plantas aquáticas flutuantes, dominam as formações de espécies vivazes e anuais, como a malcasada (Polygonum amphibium), a labaça (Rumex conglomeratus), diversas espécies de rainúnculos  (Ranunculus bandotii, R. bulbosus e R. trilobus), a trolha (Scrophularia scorodonia), o gramichão (Paspalum paspalodes), Polypogon monspeliensis, Eleocharis palustris, Carex ssp., tabúa-de-folha-larga (Typha latifolia),  junco (Juncus ssp.).

É ainda de referir a existência pontual de espécies típicas de ambientes salobros, como é o caso da tamargueira (Tamarix africana) e do junco-triangular (Scirpus maritimus).

No que diz respeito ao estrato arbóreo, dominam os salgueirais, em particular de salgueiro-branco (Salix alba) ao qual se associam o salgueiro-frágil (Salix fragilis) e o salgueiro-vermelho (Salix rubens), que formam pequenas ilhas de vegetação, densos bosquetes ou acompanham os combros das valas. Em alguns locais da zona alagada é possível encontrar-se borrazeira-preta (Salix atrocinerea) e borrazeira-branca (Salix salvifolia ssp. australis).

Em zonas que não estão sujeitas a um alagamento tão prolongado domina o freixo-de-folha-estreita (Fraxinus angustifolia), acompanhado pelo choupo-negro (Populus nigra), pelo pilriteiro (Crataegus monogyna) e, no extrato lianóide, a silva (Rubus sp.), a roseira brava (Rosa canina), a norça-canina (Tamus communis), a vinha-brava (Vitis vinífera), a salsaparrilha-bastarda (Smilax aspera), a madressilva (Lonicera periclymenum spp. hispanica), entre outras, que formam um corredor ripícola, bem conservado e que tem vindo a aumentar. Associado a este, é de referir a existência de uma pequena área de bosque com espécies tipicamente mediterrânicas como o sobreiro (Quercus suber), o carvalho-português (Quercus faginea), alguns exemplares de azinheira (Quercus rotundifolia) e zambujeiro (Olea europaea var. sylvestris). Trata-se de um testemunho da antiga floresta mediterrânica que outrora ocupava a região e que atualmente, na quase totalidade da sua extensão, foi substituída por culturas arvenses de regadio.

Fauna

 

A fauna do Paul do Boquilobo é muito diversificada como é característico das zonas húmidas que são dos ecossistemas mais produtivos de todo o planeta. Estão inventariadas 16 espécies de peixes, 13 espécies de anfíbios, 11 espécies de répteis, 27 espécies de mamíferos tendo sido observadas 221 espécies de aves.

A reserva natural funciona como maternidade para diversas espécies de peixes pelo que tem uma enorme importância para a fauna ictiológica. É de destacar a presença de dois endemismos lusitânicos que se encontram ameaçados, a saber o Ruivaco (Achondrostoma oligolepis) e a boga-portuguesa (Iberochondostroma  lusitanicum). Também merece destaque a presença da enguia (Anguilla anguilla) pelo seu elevado valor gastronómico associado à restauração na povoação do Boquilobo. É importante referir o facto de a fauna piscícola autóctone estar ameaçada pela introdução de diversas espécies exóticas como, por exemplo, a carpa (Cyprinus carpio) que foi introduzida na idade média e outras de introdução mais recente como o alburno (Alburnus alburnos) ou o peixe-gato (Silurus glanis).

 

Quanto aos anfíbios destaca-se a presença de 4 endemismos ibéricos, a saber, o tritão de ventre laranja (Triturus boscai), o sapo parteiro ibérico (Alytes cisternassii) a rã de focinho pontiagudo (Discoglossus galganoi) e a rã verde (Rana perezi). As populações de anfíbios sofreram um acentuado decréscimo com a introdução do lagostim vermelho da Louisiana (Procambarus clarkii).

 

Entre os répteis é importante considerar a existência de cinco espécies diferentes de cobras: a cobra-rateira (Malpolon monspessulanos), a cobra-de-escada (Elaphe scalaris), a cobra-de-ferradura (Coluber hippocrepis), cobra-de-água-viperina (Natrix natrix) e a cobra-de-água-de- colar (Natrix maura). Quanto aos sáurios, característicos de zonas mais secas, destacam-se a osga-comum (Tarentola mauritanica), a lagartixa-ibérica (Podarcis hispânica) e lagartixa-do-mato (Psammodromus algirus). Muito comum, mas de difícil observação é a cobra-de-pernas-tridáctila (Chalcides striatus). Merece destaque a ocorrência das duas espécies de cágados existentes em Portugal, a saber, o cágado-mediterrânico (Mauyremys leprosa) e em especial do cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), por se tratar de uma espécie com estatuto de ameaça no território nacional.

 

Relativamente aos mamíferos releva-se a presença da lontra (Lutra lutra) e do toirão (Mustela putoris) espécies associadas a ambientes aquáticos. A doninha (Mustela nivalis), a geneta (Gennetta genetta), o saca rabos (Herspestes ichneumon), a raposa (Vulpes vulpes) e o texugo (Meles meles) completam o leque dos carnívoros. O javali (Sus scrofa) é bastante comum e o gamo (Dama dama) está também presente embora em números reduzidos. É relevante, entre outras espécies de quirópteros, a ocorrência do morcego-arborícola-gigante (Nyctalus lasiopterus).

 

 

Apesar da grande diversidade faunística existente na reserva o grupo de vertebrados que se destaca é sem dúvida a classe das aves. Foi principalmente o seu interesse como local de invernada, nidificação e passagem de um elevadíssimo número de espécies, que levou à criação da Reserva Natural do Paul do Boquilobo.

 

Entre as espécies sedentárias, algumas são bastante comuns e de observação relativamente fácil como: mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis), carraceiro (Bubulcus ibis), garça-real (Ardea cinerea), pato-real (Anas platyrhynchus), águia-de-asa-redonda (Buteo buteo), peneireiro-comum (Falco tinnunculus), galinha-d’água (Gallinula chloropus), rola-turca (Steptopelia decaocto), coruja-das-torres (Tyto alba), guarda-rios (Alcedo atthis), pica-pau- malhado (Dendrocopus major), pica-pau-galego (Dendrocopus minor), cotovia-de-poupa (Galerida cristata), carriça (Troglodytes troglodytes), rabirruivo-comum (Phoenicurus ochruros), pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), melro (Turdus merula), rouxinol-bravo (Cettia cetti),  toutinegra-dos-valados (Sylvia melanochephala), chapim-rabilongo (Aegithalus caudatus), chapim-azul (Parus caeruleus), trepadeira-azul (Sitta europaea), picanço- real (Lanius meridionalis).

 

No que respeita às espécies invernantes os seus efetivos são bastante variáveis dependendo do rigor invernal no norte da Europa donde são originárias. O paul destaca-se pela enorme variedade de anatídeos: todos os invernos regista-se a presença de alguns exemplares de gansos-bravos (Anser anser), piadeiras (Anas penelope) e frisadas (Anas strepera). As  marrequinhas (Anas crecca), os arrábios (Anas acuta) e o  pato-colhereiro (Anas clypeata) são muito comuns. No que se refere aos patos mergulhadores, que se encontram em acentuado declínio em termos europeus, a reserva alberga normalmente mais de metade da população nacional de zarros (Aythya ferina) invernantes, contabilizando-se com frequência mais de mil indivíduos para além de alguns exemplares de negrinhas (Aythya fuligula) e até a perra (Aythya nyroca). Certas espécies de aves de rapina ocorrem também, principalmente no inverno como: águia-sapeira (Circus aeruginosus), águia-pesqueira (Pandion haliaetus), o peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus), alguns exemplares de esmerilhão (Falco columbarius) e a coruja-do-nabal (Asio flammeus). Os bandos de galeirão (Fulica atra) são muito numerosos, são comuns as narcejas (Gallinago gallinago), frequentes as tarambolas douradas (Pluvialis apricaria) e abundantes os abibes (Vanellus vanellus), observando-se com facilidade bandos de mais de mil exemplares nos restolhos encharcados, em conjunto com diversas espécies de gaivotas, em especial o guincho (Larus ridibundus) ou a gaivota de asas escuras (Larus fuscus). Nas cortinas arbóreas, a par com muitas outras espécies de passeriformes, destaca-se a presença da tentilhão-montês (Fringilla montifringilla) espécie exclusivamente invernante. São comuns, o tordo-pinto (Turdus philomelos) e o tordo-ruivo (Turdus iliacus).

Com o aumento da temperatura e duração do dia começam a chegar as aves vindas do sul, enquanto que as invernantes regressam ao norte. A colónia de garças merece destaque: para além das duas espécies sedentárias já referidas, aqui nidificam o goraz (Nycticorax nycticorax), a garça-branca-pequena (Egretta garzetta) e garça-vermelha (Ardea purpurea) e, provavelmente  ou outro casal do raro papa-ratos (Ardeola ralloides). Mas a colónia alberga também outras espécies como o colhereiro (Platalea leucorodia), o íbis-preto (Plegadis falcinellus), a cegonha- branca (Ciconia ciconia), o corvo-marinho-comum (Phalacrocorax carbo) e mesmo um ou dois casais de milhafre-preto (Milvus migrans) que são comuns na reserva. Esta notável diversidade de espécies nidificantes confere uma importância acrescida à reserva natural sendo a colónia que , em termos nacionais, tem um maior número de espécies. A gaivina-dos-pauis (Chlidonias hybridus), que num passado recente nidificou em números elevados, ainda se observa de passagem. Também aqui constroem os seus ninhos o borrelho-pequeno-de-coleira (Charadrius dubius) ou o pernilongo (Himantopus himantopus). Nos terrenos mais secos, com frequência pousado nas estradas ao entardecer, encontra-se o noitibó-de-nuca-vermelha (Caprimulgus ruficollis). O cuco (Cuculus canourus) ouve-se com frequência assim como o papa figos (Oriolus oriolus), no entanto são de difícil observação. A poupa (Upupa epops) e o abelharuco (Merops apiaster) também são comuns. Na zona do montado pode encontrar-se o pombo-torcaz (Columba palumbus). Diversas espécies de andorinhas, destacando-se as andorinhas-dáuricas (Hirundo daurica) esvoaçam ativamente procurando insetos alados. A arvéola-amarela (Motacilla flava), o rouxinol-comum (Luscinia megarhynchus), o rouxinol-grande-dos-caniços (Acrochephalus arundinaceus) frequentam os silvados e as zonas mais húmidas. Muitas outras espécies de passeriformes são facilmente observáveis, quer nos campos, quer nas copas das árvores: laverca (Alauda arvensis), cartaxo (Saxicola torquata), toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla), chapim-real (Parus major), picanço-barreteiro (Lanius senator), pardal-francês (Petronia petronia), tentilhão (Fringilla coelebs), milheirinha (Serinus serinus), verdelhão (Carduelis chloris), pintassilgo (Carduelis carduelis) e pintarroxo (Carduelis canabina).

 

Esta zona tem também uma enorme importância para as espécies de aves que nos seus percursos migratórios passam por Portugal, funcionando como local de repouso e alimentação entre as etapas migratórias. É o caso de algumas espécies de limícolas, aves que se alimentam nas zonas encharcadas, como o milherango (Limosa limosa), o combatente (Philomachus pugnax) e o maçarico-galego (Numenius phaeopus). Certas espécies de passeriformes observam-se com facilidade durante este período de passagem: papa-moscas (Ficedula hypoleuca), chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe) e cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra).

 

No entanto importa salientar que o interesse da reserva e do ecossistema que lhe está associado não se esgota com os vertebrados, muitas outras espécies de animais utilizam este espaço que funciona como uma ilha de biodiversidade,  destacando-se uma elevada variedade de espécies de artrópodes, alguns dos quais são raros no contexto nacional ou europeu.

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